Hoje de manhã, quando acabei de tomar banho, encontrei um papel no chão...
"Eu sabia que tinha os dias contados. Sabia que a minha despedida estava para muito breve, desde que os tinha ouvido no outro dia. Para além disso, sentia-me vazio, demasiado leve, como se fosse apenas um qualquer bocado de plástico. O Nívea Duche Crema di Framboeza, alto e gordo, disse-me para ter esperança, que já estava ali há muito tempo e que sabia bem do que falava. Mas eu sabia que ele era o aroma preferido da Teresinha. Ele nunca se poderia pôr na minha pele. Além disso, pareceu-me ter ouvido o João praguejar e dizer qualquer coisa como: "Mas pa qué questa gaja me comprou um champô com aroma de pêssego? Detesto pêssego, caraças!"
A esponja e o velho sabonete azul, sempre no seu cantinho, procuravam apoiar-me, diziam que eu não tinha razão para estar assim, que estava a imaginar coisas e que estava cada vez mais paranóico. A verdade é que eu tinha a certeza que o João me detestava porque me atirava sempre com força para junto do pessoal da higiene oral e deixava-me sempre com a tampa aberta e ao contrário. Mas o pessoal da banheira insistia em dizer que ia tudo correr bem e que a mãe do João ia acabar por se esquecer novamente de comprar um novo..."
Cannes à espera de Coppola
Há 4 dias